Olá novamente queridos viajantes e guias! Creio que o assunto
de hoje não é desconhecido, afinal quem nunca ouviu falar do Holocausto?
No dia 05/06 a turma foi ao Museu do Holocausto em Curitiba,
em primeiro lugar vim aqui registrar como foi e sem duvidas deixar claro o
quanto este lugar me marcou muito! Todos que me conhecem, ou melhor, quem fez a
Exposição Anne Frank no mês passado, ainda esta emocionalmente mexido (pelo
menos eu sim, até porque é um assunto completamente tocante e cheio de motivos
a qual nos faz chorar ou entrar em choque) e sabem muito bem como a história me
faz sentir.
E em segundo lugar queria que todos tirassem um dia para
visitar este museu, por que sem duvidas é o melhor museu do mundo!
O que foi o Holocausto?
Holocausto, também conhecido como Shoá, foi o genocídio ou assassinato em massa de cerca de seis milhões
de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, no maior genocídio do século XX, através
de um programa sistemático de extermínio étnico patrocinado pelo Estado
Nazista, liderado por Adolf Hitler e pelo Partido Nazista e que ocorreu em todo
o Terceiro Reich e nos territórios ocupados pelos alemães durante a guerra.
Nas últimas décadas, historiadores e especialistas buscam explicar o que
foi o Holocausto. No esforço para elucidar a tentativa de assassinato total e
planificado de um povo e a brutalidade dos crimes, muitos optaram por um
enfoque místico: o Holocausto seria humanamente inexplicável e
incompreensível, tamanha a crueldade dos perpetradores e o sofrimento
das vítimas.
Porém, de acordo
com o historiador tcheco-israelense Yehuda Bauer, referência
internacional no desenvolvimento de uma Pedagogia do Holocausto, esta
perspectiva é equivocada. O extermínio ocorreu porque teve a possibilidade
de ocorrer. E se ocorreu uma vez, pode ocorrer novamente: “qualquer fato
histórico é uma possibilidade antes de se converter em fato; mas quando se
converte em fato, funciona também como um precedente possível”.
Tratar o
Holocausto como fora do alcance da nossa compreensão significa,
portanto, transformá-lo em a histórico e sem risco de ocorrer novamente.
Em outras palavras, justificá-lo.
No entanto, o
Holocausto é um fato histórico e humano. Podemos estudá-lo, compreendê-lo
e utilizá-lo como advertência. O próprio conceito de Genocídio, criado em
1944, o insere neste rol e o torna comparável, mesmo com suas
particularidades (que o faz distinto de todos os outros).
A palavra
“holocausto” é derivada da grega “holokauston”, que significa “oferta de
sacrifício”.
Com origem
religiosa, o termo dá um caráter voluntário e passivo ao genocídio, submisso
à vontade divina. Já o termo “Shoá”, do hebraico, substituiu “holocausto”
por causa do significado amplo e humano de “catástrofe” e “calamidade”.
A Shoá se refere a
um acontecimento de genocídio específico que teve lugar na história
do século XX: a perseguição sistemática burocraticamente organizada e o
aniquilamento dos judeus europeus pelos nazistas alemães e seus
colaboradores entre 1933 e 1945. Os judeus foram as principais vítimas –
seis milhões foram assassinados, incluindo 1,5 milhão de crianças.
Ciganos,
deficientes e poloneses foram também objeto da destruição e redução drástica
por razões raciais, étnicas ou nacionais. Muitos milhões mais, incluindo
homossexuais, negros, testemunhas de Jeová, prisioneiros de guerra
soviéticos e dissidentes políticos sofreram grave opressão e morte sob a
tirania nazista.
A Shoá é
transmitida como um exemplo (de grandes proporções) de intolerância,
ódio, preconceito e racismo. Suas lições de vida proporcionam uma
consciência ética que aponta a necessidade de não esquecermos essas
histórias e de lutarmos diariamente contra qualquer tipo de discriminação
e para que barbáries como o extermínio humano, seja individual ou
em massa, jamais volte a acontecer com qualquer povo, nação ou etnia.
O Museu
Ao iniciar o julgamento de Adolf Eichmann (preso em Jerusalém, em 1961),
o procurador do Estado de Israel Guideon Hansner declarou: “Estou aqui hoje
para falar em nome de seis milhões de judeus que não podem mais se manifestar”.
A inauguração do primeiro Museu do Holocausto no Brasil representa uma sensação
equivalente, ao ceder a palavra e contar histórias dos que pereceram e dos que
sobreviveram ao genocídio.
Histórias que não
podem ser esquecidas e que devem ser transmitidas às próximas gerações. Foi com
esse objetivo que nasceu o Museu do Holocausto de Curitiba. Inaugurado
oficialmente em novembro de 2011, recebe semanalmente cerca de 700 pessoas,
entre adultos e alunos de escolas públicas e particulares, num espaço de 400
m².
Com uma vocação
educativa e linha pedagógica bem definida, mostra os acontecimentos da guerra
através de histórias de vítimas que possuem ligação com Brasil ou Paraná.
Trata-se de uma ferramenta contra a desumanização nazista, humanizando as
vítimas e ressaltando a “vida”.
Também destaca a
luta contra a intolerância, o ódio, a discriminação, o racismo e o bullying,
tão relevante nos dias de hoje e fundamental para que o interesse pelas visitas
fosse disseminado.
O Museu do
Holocausto em Curitiba não cumpriria sua missão se não promovesse uma discussão
abrangente sobre o preconceito e a violência ao longo dos séculos XX e XXI.
Simon Wiesenthal dizia que os sobreviventes devem ser como sismógrafos para
detectar essas ameaças. Nós também podemos funcionar como sismógrafos, desde
que conheçamos nossa própria história. Essa é uma das mensagens que o Museu
deixa ao público curitibano, paranaense e brasileiro: que a humanidade aprenda
a conviver melhor e a respeitar as diferenças de cor, fé, etnia ou posições
políticas.
A exposição permanente do Museu possui 56 objetos expostos e
aproximadamente 300 fotos e vídeos. Esses números correspondem a
cerca de 5% de todo o acervo.
Semanalmente, o
departamento museológico recebe doações de fotos, documentos,
passaportes e objetos relacionados as vítimas e ao período histórico do
Holocausto.
O acervo completo,
incluindo aquele acondicionado na reserva técnica, pode ser visto em
dois computadores no final da visita ao Museu e em exposições temporárias
e itinerantes, como em:
“Tão somente
crianças: infâncias roubadas no Holocausto”.
Depoimentos
Sara Goldstein
Data de nascimento: 3 de Maio de 1923
Local de nascimento: Wadowice, Polônia.
Data de nascimento: 3 de Maio de 1923
Local de nascimento: Wadowice, Polônia.
Sara, nascida Salomea Littner, cresceu numa família
judaica muito religiosa. Caçula de nove filhos de Yehuda Leib, pintor de
paredes e proprietário de uma loja de alimentos, Sara perdeu, aos quatro anos,
a mãe Eva. A família cercava-se de amigos que viviam ao redor da sinagoga, já
que muitos habitantes discriminavam judeus. Uma exceção era o jovem católico
Karol Wojtyła que tinha muitos amigos judeus, apresentado a Salomea na casa da
professora de alemão.
Desde 1933, Salomea se acostumara a ouvir pelo
rádio as notícias sobre o ódio nazista aos judeus. Ainda em 1938, próxima da
fronteira, Wadowice já recebeu judeus poloneses expulsos da Alemanha por ordem
de Hitler. Alguns deles foram recebidos por Yehuda Leib em sua própria casa.
Aos 16 anos, Salomea já havia deixado sua infância de brincadeiras de
esconde-esconde na loja do pai e apavorava-se com as notícias vindas da
fronteira.
Em setembro de 1939, ouviram-se sirenes e
bombardeios. Salomea escondeu-se num abrigo antiáreo e, após dois dias, fugiu
com uma tia e uma prima de cinco anos para o leste, com destino à Rússia. Antes
de fugir, viu o pai já sem barba, tirada para evitar que fosse visualmente
identificado pelos nazistas que se aproximavam.
Na cidade vizinha, Salomea se perdeu da tia após um
ataque alemão e, ferida, decidiu retornar a Wadowice. O pai Yehuda Leib
permaneceu na cidade com outras duas filhas. Na véspera do feriado judaico do
Dia do Perdão, Salomea voltou para casa. Wadowice foi oficialmente anexada à
Alemanha e, assim, os judeus foram obrigados a adotar um “nome judaico” após o
seu primeiro nome. Salomea passou a ter também o nome Sara.
Começaram as humilhações e trabalhos forçados. A
família passou a pagar aluguel de sua própria casa. Pouco tempo depois, foram
expulsos de lá e passaram a morar na loja dos tios. A sinagoga da cidade foi
queimada e, em julho de 1942, Sara e sua família foram levados para o gueto.
No gueto, Sara e as irmãs foram obrigadas a
trabalhar em uma fábrica de costura. Um dia, em maio de 1943, os alemães
entraram no gueto com uma lista de 100 meninas que deveriam ser levadas dali. O
nome de Sara estava lá. Ela fez sua trouxa e achou que fosse morrer. Três meses
depois, o gueto foi extinto e o pai de Sara, as irmãs e outros familiares foram
levados para Auschwitz, onde foram mortos.
Sara embarcou num caminhão e, após 75 km ao norte,
chegou a cidade de Sosnowiec. O grupo das jovens foi separado e 50 delas,
incluindo Sara, foram mandadas para um campo de trabalho em Gabersdorf, na
antiga Tchecoslováquia. Das outras meninas, nunca mais ouviu-se falar.
Lá, recebeu o número 23, que foi costurado à sua
roupa. Vivia com fome e, trablhando dia e noite, ficou muito doente, com
pneumonia e febre de 40 graus. Já no fim da Guerra, Sara foi levada para um
quarto com outras jovens doentes e viu os alemães colocarem cobertores nas
janelas para que ninguém os visse fugir. Os russos se aproximavam. Algumas
meninas cantavam o Hatikva, futuro hino do Estado de Israel, e queimaram os
uniformes deixados pelos nazistas. Estavam livres.
Com a saúde muito abalada, Sara retornou a Wadowice
e percebeu que sua casa estava ocupada. Não encontrou ninguém da família. Sara
passou a morar num hotel e começou a trabalhar como secretária no Partido
Comunista. Em Wadowice, reencontrou amigas que sobreviveram a Auschwitz e que
contaram sobre o destino trágico de suas irmãs. Algum tempo depois, Sara
reencontrou o irmão de sua mãe, o tio Aharon, que voltara da Rússia.
Decidiu viver numa comunidade socialista na
Polônia, onde conheceu seu futuro marido, Zeev Goldstein. Em 1947, já casada e
de passagem pela Itália com seu marido, teve uma filha.Em novembro de 1948
chegaram a Israel e se estabeleceram na cidade portuária de Haifa. Em 1960, por
um convite de familiares, chegaram ao Brasil. Em Curitiba, abriram uma loja de
enfeites de bolos e chocolates e tiveram ainda três netos e um bisneto.
Já o jovem Karol Wojtyła, três anos mais novo que
Sara, mudou-se para Cracóvia ainda antes da Guerra e, após a morte do pai e de
ser atropelado por um caminhão nazista, resolveu entrar num seminário para ser
padre. Em 1945, Karol ajudava a limpar uma plataforma de trens quando avistou
Edith Zierer, judia de 13 anos e prima distante de Sara, que fugira de um campo
nazista em Częstochowa.
Karol deu a ela chá com pão e a levou de trem até
Cracóvia. Depois de alguns anos em orfanatos, Edith emigrou para Israel. Karol
tornou-se padre e, mais tarde, bispo de Cracóvia, arcebispo e cardeal. Em 1978,
tornou-se o Papa João Paulo II. Em 2000, cinco anos antes de falecer, Karol
Wojtyła reencontrou-se com Edith Zierer no Museu do Holocausto de Jerusalém. Já
Sara faleceu em 2014, em Curitiba.
Marian Grynbaum Burstein
Data de nascimento: 12 de Dezembro de 1922.
Local de nascimento: Blinów, Polônia.
Marian era o mais
velho de quatro irmãos, filhos do casal Chemia Grynbaum e Brandia Burstein. No
pequeno vilarejo, viviam apenas quatro famílias judias. Seu pai Chemia era dono
de um armazém que vendia para agricultores de aldeias de toda a região. Desde
os cinco anos, Marian ajudava o pai no comércio, porém dedicava-se aos estudos.
Com a Guerra
iniciada, ouviam-se rumores que os alemães se aproximavam. Muitos judeus e
poloneses, fugindo para o leste, chegaram a Blinow. Chemia abrigou muitos
deles. Porém, em junho de 1941, os alemães invadiram a cidade e começaram a
organizar trabalhos forçados. Marian e a família foram obrigados a trabalhar
nos bosques, cortando árvores. Presos, conseguiu fugir, mas decidiu ser trocado
pelo pai.
Marian foi levado
a um campo de trabalhos forçados em Janiszów, às margens do rio Vístula. Lá,
presenciou crueldades e assassinatos, porém conseguiu fugir por duas vezes. Na
primeira, teve que se entregar e recebeu chicotadas como castigo. Na segunda,
buscou a família para esconder-se na casa de uma vizinha polonesa chamada Josefa.
Ao abandonar a
antiga casa da família, Chemia chorou. Sabia que nunca mais voltaria. No
primeiro esconderijo, 14 pessoas da mesma família permaneceram por três meses.
Esconderam-se novamente na casa de uma senhora chamada Ozogova, que os colocou
num fundo falso no celeiro. Ali ficaram meses. Porém, as mulheres da família
que ajudavam na casa foram descobertas. Era necessário fugir para os bosques.
Marian deixou a
família escondida numa casa das redondezas e juntou-se a um grupo de
guerrilheiros nas florestas, chamados partisans. Com poucas armas e muita
organização, esses grupos lutavam contra os alemães, além de atrapalhar a
comunicação, roubar os carregamentos e executar tarefas de sabotagem contra os
nazistas.
Marian, com 20
anos, uniu-se ao grupo de partisans do líder Avraham Bron com uma das irmãs e
logo recebeu seu codinome para as operações: Max. O combatente Marian
participou de várias ações contra nazistas, incluindo dinamites para
descarrilhar trens e troca constante de tiros. Judeus e não-judeus, russos e
poloneses, juntavam suas forças para combater os alemães. O grupo, que começou
com apenas cinquenta pessoas, chegou a ter mais de seis mil. Para os partisans,
o importante era não deixar-se capturar vivo: por isso, o ideal de “morrer
lutando”.
Porém, Marian
sobreviveu. Num dos grandes ataques organizados pelo grupo, ele teve que
escolher entre deixar a região ou permanecer com a família. Foi ao encontro dos
pais e irmãos, que permaneciam escondidos e doentes. Ao ouvirem os sons das
bombas, foram avisados que os russos atacavam e os alemães estavam fugindo.
Abraçaram-se. Era verão de 1944. A Guerra havia terminado.
O destino da
família Grynbaum Burstein foi a cidade de Krasnik, a 15 quilômetros de Blinów.
Alguns poloneses pagaram-lhes dívidas da época do armazém, suficientes para
sobreviverem por um tempo. Marian foi trabalhar como policial em Lublin, há 50
km, porém ficou doente e retornou. Voltou a Blinów, onde encontrou sua antiga
casa intacta, porém habitada por ucranianos que lá ficaram. Marian queria
deixar a Polônia.
Marian atravessou
ilegalmente a fronteira com o objetivo de encontrar os pais que partiram antes
com o mesmo destino: a cidade de Waldburg, na Alemanha. Porém, não os
encontrou. Começou a buscá-los, sem sucesso, em todas as prisões. Pouco tempo
depois, uma equipe de futebol da Tchecoslováquia chegou a Waldburg e Marian
recebeu a notícia de judeus estavam no país vizinho buscando familiares. Partiu
imediatamente.
Marian não os
encontrou e resolveu retornar. Meses depois, em Ulm, na Alemanha, recebeu a
notícia que os pais estavam vivos, na Áustria. Partiu para lá e reencontrou-os.
A mãe estava doente, no hospital. Retornaram para a Alemanha e, pouco depois,
recebeu o contato de uma tia que vivia na Bolívia desde antes da Guerra e para
lá foram.
O irmão Samuel e
uma a das irmãs saíram da Bolívia e chegou a Curitiba, onde o marido tinha
conhecidos. Marian queria permanecer na Bolívia, onde trabalhava vendendo
automóveis com um sócio paraguaio. Casou-se em La Paz e, enfim, foi convencido
pela mãe a ir ao Brasil, onde chegou em 1960 para juntar-se a família. Marian
teve duas filhas e um filho. Foi condecorado por bravura e faleceu em 2004.
Bom, assim que entrei no museu, já fiquei completamente
mexida pois de cara li a frase mais falada na Exposição Anne Frank “Apesar de
tudo, ainda acredito na bondade humana”, pra uma criança de 13 anos dizer algo
deste tipo em meio ao que eles enfrentavam sempre será um grande choque de
realidade, e assim como a ideia do museu é deixar com que os visitantes saiam completamente
chocados e emocionados, sempre haverá uma esperança pois não são os únicos que
ainda espera uma mudança, os únicos que ainda acredita na bondade humana assim
como Anne, visitar o museu é abrir a mente para o que aconteceu e evitar
futuramente, e sem duvidas ter uma das melhores experiências históricas que já
tive ate hoje.
O Museu do Holocausto fica localizado na Rua Cel. Agostinho Macedo, 248 - Bom Retiro, Curitiba - PR
Ele funciona de segunda, terça e quarta das 08:30 - 11:30 e 14:30 - 17:30
Sexta das 08:30 - 11:30
Domingos 09:00 - 12:00
Atenção: NÃO É PERMITIDO ENTRADA DE MENORES DE 12 ANOS!












